sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quando a adopção se torna um negócio

Saíu hoje no El Pais on-line a história que será publicada na sua revista de domingo. Durante os anos 70, e até 1981, dezenas ou centenas de bebés foram vendidos a pais adoptivos, pessoas bem estabelecidas, por uma clínica de Madrid. Eram estas crianças filhos não desejados, nalguns casos, mas em muitos outros, filhos cujas mãos biológicas foram informadas de terem dado à luz nados-mortos (que nunca chegaram a ver). Aconselhadas a esquecer tudo, pois a clínica trataria do enterro.

Os implicados nestes actos pouco éticos eram também pessoas de bem: o médico que dirigia a clínica de San Ramón, um advogado, um notário, um padre... e diversos funcionários da mesma.

Em Novembro de 1981, alertada por uma prostituta cujo filho teria sido vendido, a Brigada Judicial de Madrid actuou, prendendo cinco mulheres e um homem pelo suposto tráfego de crianças.

Estes niños del San Ramón, hoje adultos, procuram desesperadamente saber a verdade. Se a sua mãe realmente os queria e foi enganada. Ninguém quer aceitar que foi abandonado pela própria mãe, e mais ainda numa situação tão dúbia como esta.

Da parte das mães e pais que saíram da clínica com o peso de um suposto nado morto, e que hoje se questionam se aquele filho está, algures, vivo e à sua procura, a situação não é menos dramática.

Mas, de tudo isto, de toda esta situação que parece muito complicada de resolver (a menos que se façam testes genéticos a todos os interessados, o que deveria ser custeado pelo Estado, e nesse caso seria muito simples), e que causa tanto sofrimento aos implicados, houve algo que me chocou ainda mais. Conta um deles:

"Nací muy prematuro y tuve que estar cinco días en la incubadora. Cuando me trasladaron desde Madrid a Valencia en un taxi, seguía estando muy débil. Y mi madre me contó que los trabajadores del San Ramón le dijeron: 'No se preocupe. Métalo en el maletero, y si se muere, lo tira y le damos rápidamente una niña'.

Creio não ser necessária tradução, basta apenas dizer que "maletero" é “porta-bagagens".

Onde vamos nós? Até onde se pode ir?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Críticas construtivas, comentários e sugestões são sempre bem-vindos!