quinta-feira, 12 de março de 2009

“It’s (not) the population, stupid!”

Li há uns tempos um pequeno artigo (paricalmente reproduzido abaixo), bastante bem argumentado, sobre "falso problema de excesso de população". Basicamente dizia que o problema é a pegada ecológica dos países desenvolvidos, a forma como gastam matérias primas, poluem, contaminan - nos seus países mas também nos outros! De acordo com a regra, 80% dos recursos são usados por 20% da população. Os restantes 80% estão entregues a eles próprios, morrem à fome e são alvo de doenças. E são estes desgraçados o problema? Ou somos nós?

(e sobre estes 80%, alguns têm a sorte de ser alimentados com os excedentes dos países desenvolvidos, uma situação win-win a curto prazo, mas que a médio prazo não ajuda a agricultura local)

Control cash not people
To blame our social and environmental problems on a population explosion in the developing world is to ignore the real bottom line, says Asoka Bandarage

"(...)
Research shows that for family planning to be voluntary, economic security of the population and women’s access to material resources, education and healthcare must be available. In regions such as Kerala, in India, and in Sri Lanka, voluntary fertility declines were associated with social welfare and the reduction of social and economic disparities, including social class- and gender based inequities.

In contrast, aggressive family planning in contexts of extreme impoverishment is leading to crisis-led fertility declines among some of the poorest populations in the world today.

Widening economic inequality, not overpopulation, is the critical issue. The 20 per cent of the world’s population living in the highest-income countries account for 86 per cent of total private consumption, whereas the poorest 20 per cent account for 1.3 per cent of the same. Clearly, the rich put more pressure on the environment than the poor.

Militarism and the arms trade emanating from the North pose a threat to life and the environment; population control advocates call for timetables and quotas for population stabilisation, but not specific strategies to level overconsumption and economic growth, which would be completely unacceptable to wealthier segments, which would feel robbed.
(...)"

O fim da escravidão?

Quando se aboliu a escravatura, os escravos passaram a ser "livres", mas como não tinham quaisquer posses, iam trabalhar para o anterior patrão. Não sei se chegavam a ser pagos, mas o que sei é que tinham comprar os bens básicos (alimentação, etc) na loja do patrão, que era caríssima. O trabalho deles não chegava para subsistirem, e rapidamente estavam endividados até às orelhas. Se fugiam, eram presos, pois deviam dinheiro. Ficando, estavam enterrados para sempre, presos àquele trabalho e àquele patrão; a dívida aumentava sempre!

Noutros moldes, é o que se passa hoje. Podemos ganhar mais, é certo. Mas logo a publicidade se encarrega de convencer os mais desprevenidos -a maior parta da população - que o que temos não é suficiente.

Que só seremos sexys se usarmos o perfume X, que só atrairemos o sexo oposto se não tivermos caspa (e para isso há que usar o champô Y), que só teremos amigos se bebermos a cerveja Z, que só seremos felizes se tomarmos o medicamento W, que só nos sentiremos livres se possuirmos um veículo Q, que a casa dos nossos sonhos está no condomínio P, que os nossos filhos só serão alegres se lhes dermos a consola S, que só estaremos contentes com o nosso corpo se tomarmos o produto K para emagrecer, que a nossa casa só estará verdadeiramente limpa com o antibacteriano G... E o exercício podia continuar, mesmo não vendo eu televisão há muito tempo!

E depois entram os bancos e umas empresas que parecem muito simpáticas e emprestam dinheiro a toda a gente, para que se possa comprar tudo o que se queira. Porque para quem cai na armadilha deste estímulo ao consumo desmesurado, a resposta só pode ser o crédito! Neste momento as coisas já não estão tão fáceis, e isto embora os bancos tenham recebido massivas injecções de dinheiro dos consumidores (pois, não foram depósitos, foi mais empréstimo a fundo perdido...) para que depois pudessem dar mais créditos, os bancos guardaram muito bem esse dinheirinho e não emprestam a quase ninguém, que os tempos estão difíceis e nunca se sabe o dia de amanhã!

Mas ainda há pouco tempo víamos os preços das casas sempre a subirem, a Euribor a subir (ainda se lembram?) porque Mr. Trichet dizia que era importante controlar a inflação...

Agora não está mais fácil, mas pelo menos que as pessoas usem os próximos tempos para repensar as suas prioridades. Somos cidadãos ou consumidores?

Salvar o planeta ou a nós próprios?

Desculpem a pergunta, mas seria interessante que todos pensássemos um pouco nisto! Será que é o planeta Terra que está em risco, ou será a própria raça humana, ou pelo menos, o estilo de vida dito cidental, com alguma comodidade, que pode ser posto em causa?

Por muito que criemos cidades, impermeabilizemos solos, andemos de avião, falemos por telemóvel, etc, etc, a verdade é que fazemos parte da Natureza. Ou seja, somos seres "naturais".

Que demos cabo das plantas, dos animais, que destruamos ecossistemas, que poluamos as águas e o ar... tudo isso não se voltará contra nós? Ou estaremos à espera da tecnologia para resolver tudo?

A Terra vai fazendo o seu melhor, de acordo com cada situação. Procura sempre chegar a uma situação de equilíbrio, mesmo que para isso tome "medidas extremas" (fenómenos climatéricos extremos). E enquanto isso, nós...?

"O ambientalismo superficial é antropocêntrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui à natureza um valor apenas instrumental ou de uso. A Ecologia Profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Vê o mundo como uma teia de fenómenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza e somos dependentes deles"
Fritjof Capra