quinta-feira, 12 de março de 2009

“It’s (not) the population, stupid!”

Li há uns tempos um pequeno artigo (paricalmente reproduzido abaixo), bastante bem argumentado, sobre "falso problema de excesso de população". Basicamente dizia que o problema é a pegada ecológica dos países desenvolvidos, a forma como gastam matérias primas, poluem, contaminan - nos seus países mas também nos outros! De acordo com a regra, 80% dos recursos são usados por 20% da população. Os restantes 80% estão entregues a eles próprios, morrem à fome e são alvo de doenças. E são estes desgraçados o problema? Ou somos nós?

(e sobre estes 80%, alguns têm a sorte de ser alimentados com os excedentes dos países desenvolvidos, uma situação win-win a curto prazo, mas que a médio prazo não ajuda a agricultura local)

Control cash not people
To blame our social and environmental problems on a population explosion in the developing world is to ignore the real bottom line, says Asoka Bandarage

"(...)
Research shows that for family planning to be voluntary, economic security of the population and women’s access to material resources, education and healthcare must be available. In regions such as Kerala, in India, and in Sri Lanka, voluntary fertility declines were associated with social welfare and the reduction of social and economic disparities, including social class- and gender based inequities.

In contrast, aggressive family planning in contexts of extreme impoverishment is leading to crisis-led fertility declines among some of the poorest populations in the world today.

Widening economic inequality, not overpopulation, is the critical issue. The 20 per cent of the world’s population living in the highest-income countries account for 86 per cent of total private consumption, whereas the poorest 20 per cent account for 1.3 per cent of the same. Clearly, the rich put more pressure on the environment than the poor.

Militarism and the arms trade emanating from the North pose a threat to life and the environment; population control advocates call for timetables and quotas for population stabilisation, but not specific strategies to level overconsumption and economic growth, which would be completely unacceptable to wealthier segments, which would feel robbed.
(...)"

O fim da escravidão?

Quando se aboliu a escravatura, os escravos passaram a ser "livres", mas como não tinham quaisquer posses, iam trabalhar para o anterior patrão. Não sei se chegavam a ser pagos, mas o que sei é que tinham comprar os bens básicos (alimentação, etc) na loja do patrão, que era caríssima. O trabalho deles não chegava para subsistirem, e rapidamente estavam endividados até às orelhas. Se fugiam, eram presos, pois deviam dinheiro. Ficando, estavam enterrados para sempre, presos àquele trabalho e àquele patrão; a dívida aumentava sempre!

Noutros moldes, é o que se passa hoje. Podemos ganhar mais, é certo. Mas logo a publicidade se encarrega de convencer os mais desprevenidos -a maior parta da população - que o que temos não é suficiente.

Que só seremos sexys se usarmos o perfume X, que só atrairemos o sexo oposto se não tivermos caspa (e para isso há que usar o champô Y), que só teremos amigos se bebermos a cerveja Z, que só seremos felizes se tomarmos o medicamento W, que só nos sentiremos livres se possuirmos um veículo Q, que a casa dos nossos sonhos está no condomínio P, que os nossos filhos só serão alegres se lhes dermos a consola S, que só estaremos contentes com o nosso corpo se tomarmos o produto K para emagrecer, que a nossa casa só estará verdadeiramente limpa com o antibacteriano G... E o exercício podia continuar, mesmo não vendo eu televisão há muito tempo!

E depois entram os bancos e umas empresas que parecem muito simpáticas e emprestam dinheiro a toda a gente, para que se possa comprar tudo o que se queira. Porque para quem cai na armadilha deste estímulo ao consumo desmesurado, a resposta só pode ser o crédito! Neste momento as coisas já não estão tão fáceis, e isto embora os bancos tenham recebido massivas injecções de dinheiro dos consumidores (pois, não foram depósitos, foi mais empréstimo a fundo perdido...) para que depois pudessem dar mais créditos, os bancos guardaram muito bem esse dinheirinho e não emprestam a quase ninguém, que os tempos estão difíceis e nunca se sabe o dia de amanhã!

Mas ainda há pouco tempo víamos os preços das casas sempre a subirem, a Euribor a subir (ainda se lembram?) porque Mr. Trichet dizia que era importante controlar a inflação...

Agora não está mais fácil, mas pelo menos que as pessoas usem os próximos tempos para repensar as suas prioridades. Somos cidadãos ou consumidores?

Salvar o planeta ou a nós próprios?

Desculpem a pergunta, mas seria interessante que todos pensássemos um pouco nisto! Será que é o planeta Terra que está em risco, ou será a própria raça humana, ou pelo menos, o estilo de vida dito cidental, com alguma comodidade, que pode ser posto em causa?

Por muito que criemos cidades, impermeabilizemos solos, andemos de avião, falemos por telemóvel, etc, etc, a verdade é que fazemos parte da Natureza. Ou seja, somos seres "naturais".

Que demos cabo das plantas, dos animais, que destruamos ecossistemas, que poluamos as águas e o ar... tudo isso não se voltará contra nós? Ou estaremos à espera da tecnologia para resolver tudo?

A Terra vai fazendo o seu melhor, de acordo com cada situação. Procura sempre chegar a uma situação de equilíbrio, mesmo que para isso tome "medidas extremas" (fenómenos climatéricos extremos). E enquanto isso, nós...?

"O ambientalismo superficial é antropocêntrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui à natureza um valor apenas instrumental ou de uso. A Ecologia Profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Vê o mundo como uma teia de fenómenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza e somos dependentes deles"
Fritjof Capra

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

um homem excepcional

Humano, com um entusiasmo contagiante, refinado, excelente comunicador, Benjamin Zander é um maestro/líder excepcional:
http://www.ted.com/index.php/talks/benjamin_zander_on_music_and_passion.html

Já vi várias vezes... é muito motivador, e dou-me sempre conta de algum detalhe novo.

A educação das nossas crianças

A questão é complexa e relaciona-se com uma série de factores. Tentarei abordar os que me parecem mais importantes.

A Educação "institucional"
Muitos professores hoje existentes (sobretudo os mais jovens) são-no por uma razão simples: escolheram um curso que não lhes permite mais nada, e não por vocação, amor pelas crianças/jovens, ou qualquer outra razão. O resultado não pode ser bom.O Ministério da Educação (ME) impõe que os professores que facilitem, a vários níveis, a tarefa dos estudantes. Tal atitude, que a meu ver pode ser comparada a engenharia financeira, neste caso aplicada à estatística dos resultados escolares, deixa muito a desejar.
Outra questão é a forma como o ME trata os professores, o que se reflecte na forma como são vistos pelos próprios alunos, pais e sociedade em geral (o estatudo de professor deve ser dos mais baixos que há, a nível de licenciados).

A Educação familiar
Existe? Creio que a maioria dos pais pensa que a escola existe para ensinar e se desligam dessa sua função.O exemplo que as crianças têm dos pais é cruciall, e estes não podem ter a atitude de "faz o que eu digo, não o que eu faço". Simplesmente dá tudo errado. Há que transmitir princípios, ética, valores... Amor& respeito parecem-me fundamentais.
Daqui, partiríamos para outra questão: os pais têm tempo (de qualidade) e disponibilidade para os filhos? Há pouco tempo, uma leitora do ElPais, a propósito da notícia da aprovação da semana das 65h (ou são 60?), dizia que o melhor é que as crianças passem a ter um poster dos pais para que não se esqueçam como eles são... Há quem trabalhe em excesso por necessidade, outros que o fazem por prioridade, por acharem que é mais importante proporcionar bens materiais aos filhos do que atenção.

Resumindo, e voltando ao tema: que podemos esperar das gerações presentes e futuras? Há projectos alternativos, como a Escola da Ponte, no Norte de Portugal, mas não são a maioria. Creio que estamos a preparar gerações de incapazes aos lhes darmos as maiores facilidades, isto num mundo em permanente mudança e pleno de dificuldades.

O disparate da hiperactividade infantil

Ainda não tinha chegado aos meus ouvidos esta questão, até ler, há já algum tempo, o excelente livro “Os Inventores de Doenças” (ed. Ambar), do jornalista científico alemão Jorg Blech. Nele, o autor explica como o termo foi criado e difundido pela classe médica, com finalidade de vender um novo medicamento, destinado aos meninos irrequietos - que começavam assim a sua vida escolar drogados ou medicados (escolham a expressão que preferirem).

Recentemente, soube que a tal hiperactividade pode estar ligada a corantes e outros aditivos alimentares, muitos deles presentes nos doces que com demasiada regularidade os pais compram às criancinhas.

Creio que a questão é mais profunda que isto. Não se resume a tramóias da indústria farmacêutica ou a aditivos alimentares (que há sempre que evitar - e as drogas da indústria, idem).

Recentemente voltei a ver um vídeo sobre educação e criatividade, agora com legendas (da vez anterior tinham-me escapado muitas coisas!), e voltei a repensar o assunto.

O que se passa é que hoje, muitos pais, querem crianças domesticadas, que não chateiem, que não se sujem, que não corram riscos (mesmo que mínimos). Pretende-se um macaquinho de colocar na estante para mostrar aos amigos (e nessa altura poderá mostrar algumas habilidades, previamente aprovadas pelos pais). Daí que muitos pais comprem aos meninos o que podem e não podem para os manterem caladinhos, que uma birra é coisa insuportável e os papás não estão para isso. Concluindo: hoje pretende-se que as crianças não chateiem. Ponto. Sem que para isso lhes seja dada educação em casa, claro está.

Po outro lado, as crianças raramente podem gastar toda a energia que têm de forma espontânea: ele é a aula de ballet, ele é o inglês, a informática, os tempos-livres-em-que-metem-o-menino-em-frente-ao-televisor, etc, etc. E, em casa, os jogos de computador ou da consola (que os papás deram ao menino para que se calasse). Não saem à rua (que é perigoso!), e quando andam de bicicleta mais parecem uns astronautas, com tanta parafernália protectora. Ou seja, não são crianças, não se sujam, não gritam e correm e saltam e rebolam. NÃO! Calma, crianças!

Como se pretende que estas crianças que, como qualquer criança, têm uma energia brutal, prestem atenção em mais um sítio - escola - em que têm de estar quietinhas? Se não lhes permitimos expressar essa energia, descobrir-se a si próprias, ter momentos de evasão, extravasar-se - dando-lhes momentos próprios para isso - como podemos esperar que se consigam concentrar e aprender?

Há ainda situações, como a referida por Sir Ken Robinson no video, em que as crianças são boas em tudo o que se relacione com expressão corporal - dansa, teatro... - e, nesse caso, não há volta a dar: há que matriculá-las numa escola que corresponda aos seus anseios! O caso que ele refere é muitíssimo relevante: a criança que foi levada a um "especialista" (felizmente com muita sensibilidade) com problemas de aprendizagem não está "doente" (e na altura ainda não se falava na hiperactividade, como muito bem lembra Robinson), é uma "bailarina" - de facto, teve imenso sucesso como coreógrafa de Cats e outros musicais famosos. Outro "especialista" tê-la-ia medicado e a criança iria para a escola todos os dias meio zombie, e hoje seria, provavelmente, uma anónima e anódina trabalhadora de uma qualquer empresa. Em vez de uma mulher pleamente realizada, que até é milionária à custa do seu trabalho.

Mas é mais fácil, a curto prazo, dar-lhes Ritalina (drogá-las com Ritalina, melhor dizendo), e pactuar com a situação de o menino ter de tomar o comprimido todos os dias. Isto é um crime!

Entretanto, toda a sociedade aceita que as criancinhas devem ser controladas, devem ser "mansinhas" (não estou a falar em educação, é outra coisa e compete aos pais), daí que os professores/escolas já peçam aos pais dos petizes mais irrequietos que lhes dêm a pílula mágica - se existe, para que serve?, se não para acalmar aqueles diabretes irrequietos?

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Política dos 5R - e não 3Rs

Às vezes tenho a impressão que há quem adore a reciclagem, e o seu raciocínio é quanto mais materiais enviar para a reciclagem, melhor. E assim, em casa pensam separam conscienciosamente cada pequeno e grande papel, cada embalagem de plástico, etc, etc. Quando a lógica deveria ser outra - há que reduzir o consumo (tanto de embalagens e de produtos), e por isso, antes ainda, há que REPENSAR e RECUSAR.

Encontrei esta lista num site brasileiro:

Política dos 5R

Repensar – o primeiro R da política está dentro da sua mente e envolve tudo que já falamos aqui sobre consumo consciente: é usar o seu grande poder de decisão e escolha.

Recusar – o segundo R consiste em recusar produtos que não são necessários ou aqueles que por algum motivo não contribuem com a saúde do planeta. Existem produtos, por exemplo, que são comercializados em várias embalagens desnecessárias.

Reduzir – o terceiro R está diretamente ligado à tentativa de reduzir o consumo. Repensar a real necessidade e utilidade de tudo que se compra. Faz bem para o planeta e para o seu bolso.

Reutilizar – antes de descartar um produto ou uma embalagem, mesmo para a reciclagem, analise se ele pode ser utilizado de alguma outra forma. Em vez de comprar potinhos plásticos para colocar o que sobrou de comida na geladeira, aproveite aqueles de sorvete, maionese ou margarina, que vedam e resistem bem até por muito tempo no freezer; latas de óleo podem servir de vasos para ervas. Use sua criatividade.

Reciclar – se nada disso for possível, opta-se então pela reciclagem, lembrando sempre que ela também é uma indústria poluidora e que nem sempre impede a retirada de matéria-prima virgem da natureza. É uma etapa importante, mas não a única em todo esse processo e nem pode ser usada como uma desculpa para se consumir desnecessariamente.

Leve um saco de pano às compras, recuse os sacos de plástico que lhe impingem por todo o lado!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quando a adopção se torna um negócio

Saíu hoje no El Pais on-line a história que será publicada na sua revista de domingo. Durante os anos 70, e até 1981, dezenas ou centenas de bebés foram vendidos a pais adoptivos, pessoas bem estabelecidas, por uma clínica de Madrid. Eram estas crianças filhos não desejados, nalguns casos, mas em muitos outros, filhos cujas mãos biológicas foram informadas de terem dado à luz nados-mortos (que nunca chegaram a ver). Aconselhadas a esquecer tudo, pois a clínica trataria do enterro.

Os implicados nestes actos pouco éticos eram também pessoas de bem: o médico que dirigia a clínica de San Ramón, um advogado, um notário, um padre... e diversos funcionários da mesma.

Em Novembro de 1981, alertada por uma prostituta cujo filho teria sido vendido, a Brigada Judicial de Madrid actuou, prendendo cinco mulheres e um homem pelo suposto tráfego de crianças.

Estes niños del San Ramón, hoje adultos, procuram desesperadamente saber a verdade. Se a sua mãe realmente os queria e foi enganada. Ninguém quer aceitar que foi abandonado pela própria mãe, e mais ainda numa situação tão dúbia como esta.

Da parte das mães e pais que saíram da clínica com o peso de um suposto nado morto, e que hoje se questionam se aquele filho está, algures, vivo e à sua procura, a situação não é menos dramática.

Mas, de tudo isto, de toda esta situação que parece muito complicada de resolver (a menos que se façam testes genéticos a todos os interessados, o que deveria ser custeado pelo Estado, e nesse caso seria muito simples), e que causa tanto sofrimento aos implicados, houve algo que me chocou ainda mais. Conta um deles:

"Nací muy prematuro y tuve que estar cinco días en la incubadora. Cuando me trasladaron desde Madrid a Valencia en un taxi, seguía estando muy débil. Y mi madre me contó que los trabajadores del San Ramón le dijeron: 'No se preocupe. Métalo en el maletero, y si se muere, lo tira y le damos rápidamente una niña'.

Creio não ser necessária tradução, basta apenas dizer que "maletero" é “porta-bagagens".

Onde vamos nós? Até onde se pode ir?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Viva o sal!

Acusado de fazer mal à saúde, o sal tem sido "vendido" à sociedade como o mau da fita. Médicos e meios de comunicação social associam-se para declarar guerra ao terrível inimigo do ser humano que é causador de hipertensão.
Como sempre, as meias verdades são perigosas. Agradam geralmente à comunicação social porque permitem simplificar questões complexas ou sobre as quais é melhor não aprofundar muito. Como a maior parte da informação nos chega via comunicação social, o nosso conhecimento vai ser o resultado de um tratamento enviesado de seja qual fôr o tema.

E o sal - o bom sal - merece melhor.

Vamos por partes.

É verdade que hoje ingerimos uma grande quantidade de sal que nos faz mal à saúde. Mas... de onde vem ele? Muito simples: a maioria provém dos produtos processados que consumimos massivamente. O que se passa é que com o processamento os alimentos perdem o sabor, o que tem de ser compensado com excesso de sal e aditivos alimentares como intensificadores de sabor (glutumato monossódico) e outros, todos eles nocivos.

E o sal em si? Sendo de boa qualidade, e consumido com moderação, é saudável. E o que é um bom sal? Eu pessoalmente fiquei convencida com as explicações que me deu o produtor Rui Simeão (ou Rui Francisco Neves Dias), cuja flor de sal já recebeu vários prémios internacionais - Prémio Prestígio ITQI'2006-2 estrelas, atribuído pelo International Taste & Quality Institute, em 2006 e 2008 e, em 2004, na Feira Biofach em Nuremberga (Alemanha).

E o que me convenceu foi o seguinte:
- o sal marinho de boa qualidade não contém poluentes (o que ele comprova com análises periódicas aos seus produtos);
- não necessita ser lavado (e o dele é branquíssimo!), pelo que contém todos os minerais presentes no mar, oligoelementos incluídos;
- não tem aditivos (antiaglomerantes ou outros).

Se isto não bastasse, pedi uma vez que me fizessem o teste de intolerância alimentar para este sal, por biorressonância, e posso dizer que o meu organismo o adora! A técnica responsável pelo teste estava estupfacta...

Se analisar uma embalagem de sal, conteúdo diz apenas "sal" ou "sal marinho", mas o que se passa é que a legislação permite que se adicionem aditivos sem que isso tenha de ser mencionado. E sobre a lavagem do sal, imagino que nem sequer se pronuncie. Ou seja, um sal de mesa convencional poderá ou não ter poluentes, mas aditivos terá certamente, e quase de certeza terá perdido todos os minerais que o tornam um produto tão rico (é comum lavar-se o sal). Não admira que faça mal! A solução está à vista.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Siza é espanhol. Não sabiam?!?

Ainda não me refiz. Estava na biblioteca a dar uma olhadela aos DVDs de arte, quando encontro esta pérola:

"Elogio de la luz : Un viaje por la arquitectura española contemporánea"

"Una fascinante visión de la arquitectura española actual. La serie presenta un grupo de 12 de los mejores arquitectos españoles. Cada programa, en compañía de un arquitecto y con textos de Manuel Vicent, ofrece un triple punto de vista de los creadores. (...) Y el propio arquitecto hablando en primera persona de su trabajo. La arquitectura española ha conseguido un eco internacional como nunca había tenido, y esto es así porque contiene aspectos singulares de gran interés. (...) La última década en España es calificada como una etapa de esplendor creativo en este terreno. Ha sido un período prolífico y un campo de experimentación para nuestros arquitectos." (texto da contracapa do DVD)


Ora vejam lá o primeiro do DVD2! Será que puseram o Siza a falar castelhano?!?

Tão bons que eles são, os espanhóis...

Podem ver no Youtube o tal "Siza espanhol", hablando el mejor portuñol que puede...

Comigo, a Amazon já não conta!

É a segunda vez que a Amazon me faz isto. E a última.

A primeira foi uma encomenda à Amazon.fr. Dão um prazo dentro do qual estaremos a receber a encomenda, mas durante esse prazo - quando o cliente já está ansioso pelo pacote - enviam uma mensagem informando do atraso (e geralmente não é pequeno). Dessa vez, simplesmente anulei o pedido de compra.

Desta vez, foi a Amazon.co.uk que me fez a mesma gracinha: deveria receber os livros a partir de hoje, e em vez disso recebo a mensagem do atraso. Obviamente, anulei o pedido de compra, e estou a ver se descubro como anular a minha conta naqueles desonestos. Já sabem, essa opção, existindo, está sempre muito bem escondidinha...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Modas e sapatos

É engraçado que ainda hoje estava precisamente a explicar a uma pessoa, no meu castelhano ainda um pouco limitado, que o meu blog não era para quem gosta exclusivamente de moda e penteados…
Pois vamos lá então falar de moda e sapatos!

Já andaram de sapatos de salto bem alto? Pronto, salto médio. Já? Se ainda não, experimentem (sobretudo os homens). Não estou a gozar, há coisas que não se podem imaginar, e a experiência dos saltos-altos é uma delas. Uma coisa é vê-las andar com eles, outra é andar montado (literalmente) neles. Nada que ver, como dizem nuestros hermanos.


Então é assim: são muuuuito desconfortáveis, comprimem os dedos, deformam a curvatura normal da coluna, e sobretudo obrigam a um esforço sobre-humano (as mulheres são excepcionais nisso) para manter o equilíbrio. Basta olharem com atenção para a forma como uma mulher anda, quando montada nuns saltos bem altos. Não há nada mais deplorável, pois o andar torna-se artificial (os joelhos sempre dobrados, já repararam?), pouco fluído, desconcertante. É verdade que há quem ande como uma princesa, com sorriso guapo nos lábios e tudo, mas o pensamento, em qualquer dos casos, é sempre o mesmo: à semelhança de quem passa por momentos muito dramáticos, e por isso mesmo vive “um dia de cada vez”, quem está no alto dos saltos, tem “um pé de cada vez” na cabeça. Há que equilibrar um pé de cada vez, colocar um pé de cada vez na calçada - malditas pedras com buraquinhos que só ela vê! Não dá para pensar em mais nada! É verdade! Daí que andar de saltos altos seja a melhor forma de evitar pensar (noutras coisas). Ah, o que eu gosto dos meus sapatinhos rasos e confortáveis…!

“Comprei um vestido nos saldos da Zara por 5€. Mostrei p’ra minha amiga do Brasil que me disse que lá custava duzentos e tal reais… uns 100€!”. Quando a Mariana me contou isto, lembrei-me do que tinha lido da Zara na China: , ao contrário de , a Zara é roupa de moda cara, porque não se pretende que qualquer pessoa a possa comprar (sobretudo as operárias da fábrica onde é feito quase tudo, imagino…). E percebi hoje, falando com outra pessoa, que não só no Brasil a estratégia é a mesma, mas em toda a América Latina.

Isto dá que pensar… aqueles trapitos não custam o valor da produção mais um lucro comum a qualquer actividade. Não, custam o valor que querem que lhes atribuamos. Certamente que os modelos vendidos na China e América Latina não têm melhores acabamentos, serão exactamente iguais o vestido dos saldos da minha amiga em Espanha, e o outro do Brasil. Serve isto para ver melhor, pelo facto de pagarmos mais barato por um mesmo produto que noutras regiões é caro, a forma como nos podem manipular, convencendo-nos que estamos a comprar um produto de luxo, só porque o preço nos faz ter essa percepção.


E a reflexão continuaria indefinidamente. É que tem “pano para mangas”!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"arrisca-se a ser a primeira mulher"

As palavras que usamos importam.

Perante uma mesma situação, a percepção que diferentes pessoas têm pode ser distinta, daí que as expressões usadas para a descrever também poderão ser, em casos extremos, opostas. Não é o mesmo “sofrer” ou “ganhar”, “arriscar-se” ou “candidatar-se”, ou ainda “ser desafiado a”.

Espantado? Pois saiba que não fui buscar estes exemplos à toa, como poderá comprovar se continuar a ler. Entretanto chamava a sua atenção para o facto de se poder utilizar uma expressão negativa (quando se refere a uma facto aceite universalmente como positivo) deliberadamente, ou seja, para criar no leitor ou ouvinte uma percepção negativa.

Há pouco tempo, uma pessoa conhecida comentava-me o absurdo da expressão “sofrer um aumento” relativa às pensões nacionais, expressão essa que ouvira num telejornal mais sensacionalista. Quando estamos a viver fora de Portugal, como é o meu caso, estas situações saltam mais à vista, fruto de uma observação diferente devido à distância.

Ás vezes parece que há jornalistas que se crêem arautos da desgraça, e ficam confundidos e baralhados, quando a notícia que têm de dar “até” é positiva. Vai daí, contornam a coisa, e usam uma expressão conotada negativamente – não se deixam derrotar! Ou seja, aumentos nas pensões “sofrem-se”, tal como os aumentos na Euribor para quem paga a sua casa ao banco. Obviamente, este canal de televisão é bastante sensacionalista, e parece ver tudo com uma lupa que distorce e até parece inverter a realidade, ao relatar o aumento de uma pensão como algo que se sofre.

Mas há mais exemplos. O que se segue talvez até tenha sido produzido de forma inconsciente, mas o resultado é, no mínimo, de muito mau gosto. No mínimo. Descobri-o na página de Internet da TSF. Sobre a possibilidade de uma mulher tomar as rédeas do poder na Islândia, dizia o seguinte: “Lésbica assumida, Johanna vive com uma jornalista e arrisca-se a ser a primeira mulher líder do governo islandês.” Lá está de novo: arrisca-se! Efectivamente, sendo mulher e ainda por cima lésbica, Sigurdardottir corre grandes riscos se assumir a liderança do governo da Islândia. Ou talvez o que se pretenda dizer é que se arrisca a ser a primeira mulher. Caramba, é realmente arriscado! Sabe-se lá o que poderá acontecer (a ela?... ou à política?...). Johanna, não quereria reconsiderar? Bolas, parece que já lá está!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Como o stress/medo permitem que nos manipulem

Servan-Schreiber, neurocientista francês explica neste pequeno filme que em situações de stress, deixamos de conseguir pensar racionalmente. Gera-se um mecanismo básico que prepara o corpo para uma atitude de "ataque ou fuga" - aumento do ritmo cardíaco, maior irrigação dos músculos (com a consequente menor irrigação dos órgãos, que passam a funcionar pior - isto digo eu). Enquanto se mantiver essa percepção de risco do exterior, todo o corpo vai estar sob a influência das hormonas do stress, e da forma como expliquei, com a capacidade de raciocínio reduzida a quase zero. No caso de pessoas depressivas, a percepção do risco é permanente, logo a acção dessas hormonas vai ser de tal forma violenta que se enfraquece a parte do cérebro responsável por controlar todo este processo de preparação para situação de stress vs. situação de normalidade. Isso significa que essas pessoas vivem em estado de alerta permanente, logo, "com a capacidade de raciocínio reduzida a quase zero"! Imagino que o mesmo se passe com pessoas permanentemente stressadas.

Tudo está, portanto, relacionado com o funcionamenteo do cérebro, mais precisamente com a relação entre a amígdala (a cerebral!!!) e o hipocampo, e o córtex pré-frontal, tudo devidamente controlado por hormonas. E as conclusões são simples: uma população deprimida, stressada ou simplesmente preocupada não raciocina, sendo por isso mais fácil de controlar.

Contextualizando este tema na actual crise, assim como nas privações que as classes média e baixa portuguesas têm tido nos últimos tempos (por muito que o Sr Manuel Pinho tenha demorado em declarar o início do tempo das vacas magras), podemos pensar em até que ponto não estará a população portuguesa anestesiada com as suas preocupações diárias, com o seu magro salário para pagar um (ou mais!) empréstimos ao banco, ao mesmo tempo que aumentam a gasolina, a Euribor e os alimentos...

Onde fica o espaço para pensar?

Para ter sentido crítico?

É que não é só a questão de as pessoas terem preocupações mais imediatas e de sobrevivência básica para pensarem; é que a questão é ORGÂNICA, ou seja, é o próprio cérebro que bloqueia (temporariamente ou não, como no caso da depressão) a capacidade de utilizar o córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento racional.

Já temos o circo romano na televisão (pão... está cada vez mais caro, mas ainda há), e as criancinhas são cada vez mais ensinadas de forma a não pensarem. Estamos, como população, perfeitamente manipuláveis.

Curiosamente, a CIA revela, em documentos que deixaram de ser confidenciais, a sua obcessão por fazer chegar os interrogados - mediante técnicas sofisticadas de tortura - a um estado de "shock" em que eles se tornam colaborantes a 100%, revelando tudo que lhes está no cérebro.

Foi com base nisto que Naomi Klein escreveu "The Shock Doctrine". Nele, defende que
"el capitalismo emplea constantemente la violencia, el terrorismo contra el individuo y la sociedad. Lejos de ser el camino hacia la libertad, se aprovecha de las crisis para introducir impopulares medidas de choque económico, a menudo acompañadas de otras forma de shock no tan metafóricas: el golpe de la porra de los policías, las torturas con electroshocks o la picana en las celdas de las cárceles.
En este relato apasionante, narrado con pulso firme, Klein repasa la historia mundial reciente (de la dictadura de Pinochet a la reconstrucción de Beirut; del Katrina al tsunami; del 11-S al 11-M, para dar la palabra a un único protagonista: las diezmadas poblaciones civiles sometidas a la voracidad despiadada de los nuevos dueños del mundo, el conglomerado industrial, comercial
y gubernamental para quien los desastres, las guerras y la inseguridad del ciudadano son el siniestro combustible de la economía del shock."

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Hilariante. Não fosse a gravidade do caso, seria hilariante

Nas férias de Natal que fui passar a Portugal encontrei as ruas inundadas por um misterioso anúncio…

“Era uma vez…” começava, em letras garrafais em fundo rosa-chock, “70% das mulheres não tomam a pílula contraceptiva” como deve de ser (não me lembro das palavras exactas). Terminava, em letras bastante mais pequenas, “blá-blá-blá, e seja feliz para sempre”, como nas histórias em que a princesa encontra o seu príncipe – a diferença é que na realidade, ao contrário das histórias de encantar, o príncipe (ou os príncipes) já não é suficiente: segundo o anúncio, há um qualquer produto da Schering-Plough absolutamente indispensável para garantir a felicidade eterna. Que estava relacionado com um novo método contraceptivo, não restavam dúvidas. Sobre a empresa que o comercializava, também não. Mas os mupis não revelavam o mais importante: o nome do produto.

É uma estratégia de publicidade: procura-se captar a atenção dos consumidores (neste caso, das consumidoras) com um primeiro anúncio que não revela o produto (antes, apela, por exemplo, a um estado de bem-estar, como o infantilizante “viver feliz para sempre”), deixa-se a curiosidade em banho-maria durante uns tempos, e depois volta-se ao ataque com um anúncio que finalmente satisfaz o desejo (nessa altura, só será verdadeiramente saciado com a compra do produto…), revelando o produto anunciado, incógnito, inicialmente.

Voltando ao princípio. Não imune à curiosidade, fiz uma breve pesquisa na Internet, com palavras chave do anúncio, entre as quais o nome da farmacêutica. Logo por azar (não para mim!), as palavras “70” “mulheres” “pílula” e “Schering-Plough” conduziam a uma hecatombe de notícias de um acontecimento muito recente no Brasil. Que não é simpático:

1. Schering é novamente condenada a indenizar consumidora que ...
15 Dez 2008 ... O Laboratório Schering do Brasil Química e Farmacêutica Ltda. deverá pagar indenização no valor de R$ 70 mil, por danos morais, ...
2. Pílula de farinha: Schering é condenado a pagar indenização de R ...
30 Nov 2007 ... Cerca de 200 mulheres teriam ficado grávidas, mas poucas delas, cerca de 10, que conseguiram comprovar na Justiça que tomaram as pílulas do ...

A história é simples: graças a umas pílulas contraceptivas (que de contraceptivo só tinham o nome na embalagem) colocadas no mercado brasileiro pelo Laboratório Schering do Brasil, cerca de 200 mulheres teriam ficado grávidas inesperadamente. Supostamente, chegaram ao mercado comprimidos resultantes do teste de uma máquina embaladora do laboratório, que deveriam ter sido eliminados. Um “pequeno” desleixo, portanto.

É curioso que o anúncio da Schering-Plough em Portugal fale nas supostas 70% das mulheres que se esquecem de vez em quando de tomar a pílula como deve de ser, quando a empresa do mesmo grupo no Brasil se tinha "esquecido", em 1998, de eliminar pílulas sem substância activa… Sabendo tudo isto, a empresa parece pouco credível, e não tem autoridade para falar em quem se esquece de tomar a pílula. Quem pode confiar nesta empresa, quando apresenta, agora, um nova forma de evitar gravidezes indesejadas?



Pesquisando agora de novo sobre outro assunto, chega-me novamente uma notícia do género das anteriores, mas desta vez foi-se a tempo de evitar o pior:

Pílula anticoncepcional Nociclin é proibida em SP
(“exames do Instituto Adolfo Lutz que revelaram problemas em amostras do produto, que poderiam tornar ineficaz a prevenção da gravidez”)