quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Como o stress/medo permitem que nos manipulem

Servan-Schreiber, neurocientista francês explica neste pequeno filme que em situações de stress, deixamos de conseguir pensar racionalmente. Gera-se um mecanismo básico que prepara o corpo para uma atitude de "ataque ou fuga" - aumento do ritmo cardíaco, maior irrigação dos músculos (com a consequente menor irrigação dos órgãos, que passam a funcionar pior - isto digo eu). Enquanto se mantiver essa percepção de risco do exterior, todo o corpo vai estar sob a influência das hormonas do stress, e da forma como expliquei, com a capacidade de raciocínio reduzida a quase zero. No caso de pessoas depressivas, a percepção do risco é permanente, logo a acção dessas hormonas vai ser de tal forma violenta que se enfraquece a parte do cérebro responsável por controlar todo este processo de preparação para situação de stress vs. situação de normalidade. Isso significa que essas pessoas vivem em estado de alerta permanente, logo, "com a capacidade de raciocínio reduzida a quase zero"! Imagino que o mesmo se passe com pessoas permanentemente stressadas.

Tudo está, portanto, relacionado com o funcionamenteo do cérebro, mais precisamente com a relação entre a amígdala (a cerebral!!!) e o hipocampo, e o córtex pré-frontal, tudo devidamente controlado por hormonas. E as conclusões são simples: uma população deprimida, stressada ou simplesmente preocupada não raciocina, sendo por isso mais fácil de controlar.

Contextualizando este tema na actual crise, assim como nas privações que as classes média e baixa portuguesas têm tido nos últimos tempos (por muito que o Sr Manuel Pinho tenha demorado em declarar o início do tempo das vacas magras), podemos pensar em até que ponto não estará a população portuguesa anestesiada com as suas preocupações diárias, com o seu magro salário para pagar um (ou mais!) empréstimos ao banco, ao mesmo tempo que aumentam a gasolina, a Euribor e os alimentos...

Onde fica o espaço para pensar?

Para ter sentido crítico?

É que não é só a questão de as pessoas terem preocupações mais imediatas e de sobrevivência básica para pensarem; é que a questão é ORGÂNICA, ou seja, é o próprio cérebro que bloqueia (temporariamente ou não, como no caso da depressão) a capacidade de utilizar o córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento racional.

Já temos o circo romano na televisão (pão... está cada vez mais caro, mas ainda há), e as criancinhas são cada vez mais ensinadas de forma a não pensarem. Estamos, como população, perfeitamente manipuláveis.

Curiosamente, a CIA revela, em documentos que deixaram de ser confidenciais, a sua obcessão por fazer chegar os interrogados - mediante técnicas sofisticadas de tortura - a um estado de "shock" em que eles se tornam colaborantes a 100%, revelando tudo que lhes está no cérebro.

Foi com base nisto que Naomi Klein escreveu "The Shock Doctrine". Nele, defende que
"el capitalismo emplea constantemente la violencia, el terrorismo contra el individuo y la sociedad. Lejos de ser el camino hacia la libertad, se aprovecha de las crisis para introducir impopulares medidas de choque económico, a menudo acompañadas de otras forma de shock no tan metafóricas: el golpe de la porra de los policías, las torturas con electroshocks o la picana en las celdas de las cárceles.
En este relato apasionante, narrado con pulso firme, Klein repasa la historia mundial reciente (de la dictadura de Pinochet a la reconstrucción de Beirut; del Katrina al tsunami; del 11-S al 11-M, para dar la palabra a un único protagonista: las diezmadas poblaciones civiles sometidas a la voracidad despiadada de los nuevos dueños del mundo, el conglomerado industrial, comercial
y gubernamental para quien los desastres, las guerras y la inseguridad del ciudadano son el siniestro combustible de la economía del shock."